A psicologia, por sua natureza, não oferece respostas prontas ou certezas absolutas, mas atua como um guia, apontando caminhos e possibilidades para a compreensão e o enfrentamento das complexidades da mente humana. Diferente de uma ciência exata que busca verdades universais, a psicologia lida com a subjetividade e a singularidade de cada indivíduo, oferecendo ferramentas e perspectivas que auxiliam na jornada de autodescoberta e bem-estar.
Entendendo a Abordagem da Psicologia
Imagine a psicologia como um mapa. Ele não te diz exatamente como será a sua viagem, mas te mostra diferentes rotas, os desafios que você pode encontrar e os pontos de interesse. A escolha do caminho, a velocidade e as paradas dependem de você. Da mesma forma, um psicólogo não dita o que fazer, mas auxilia a pessoa a explorar suas próprias emoções, pensamentos e comportamentos, identificando padrões e desenvolvendo novas estratégias.
Exemplos da Prática Psicológica
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Na terapia para ansiedade: Uma pessoa que sofre de ansiedade crônica pode buscar ajuda psicológica. O psicólogo não vai "curar" a ansiedade de forma mágica, mas vai auxiliar o paciente a identificar os gatilhos, entender os padrões de pensamento que alimentam a ansiedade e aprender técnicas de relaxamento e enfrentamento. O caminho apontado aqui pode incluir a reestruturação cognitiva (mudar a forma de pensar sobre situações ansiogênicas) e a exposição gradual a situações temidas, permitindo que a pessoa construa novas respostas e reduza o impacto da ansiedade em sua vida. A "certeza" de que a ansiedade desaparecerá não existe, mas o "caminho" para aprender a geri-la e viver melhor com ela é perfeitamente possível.
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No processo de luto: A perda de um ente querido é uma experiência avassaladora e única para cada indivíduo. Um psicólogo que acompanha alguém em luto não tem a "solução" para a dor ou a "certeza" de que ela passará em determinado tempo. Em vez disso, ele oferece um espaço seguro para a expressão dos sentimentos, validando a dor e as fases do luto. O caminho apontado pode envolver a ressignificação da perda, a busca por novas formas de conexão com a memória do falecido e o desenvolvimento de estratégias para lidar com a ausência no dia a dia. A certeza de que a dor irá cessar não pode ser dada, mas o caminho para um luto saudável e a reconstrução da vida é o foco do acompanhamento.
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Na orientação parental: Pais enfrentam inúmeros desafios na criação dos filhos. Ao procurar um psicólogo para orientação parental, eles não buscam um manual com "certezas" sobre como educar. O profissional, no entanto, oferece caminhos, auxiliando os pais a compreenderem o desenvolvimento infantil, as necessidades emocionais de seus filhos e a identificarem padrões de interação familiar. Podem ser abordadas técnicas de comunicação mais eficazes, estratégias para lidar com birras ou dificuldades de comportamento, e formas de fortalecer o vínculo familiar. A psicologia, nesse caso, não garante que o filho será perfeito ou que não haverá mais conflitos, mas aponta caminhos para uma parentalidade mais consciente e eficaz, que promova o bem-estar de toda a família.
A Liberdade da Jornada
A beleza da psicologia reside justamente nessa ausência de certezas e na riqueza dos caminhos que ela revela. Ela encoraja a autonomia, convidando o indivíduo a ser o protagonista de sua própria jornada de crescimento. Ao invés de uma resposta definitiva, a psicologia oferece um processo de questionamento, reflexão e descoberta, onde cada passo é uma oportunidade de aprendizado e transformação. Ela nos lembra que a vida é um constante movimento e que, embora não possamos controlar todas as variáveis, sempre podemos escolher o caminho que nos leva a uma vida mais plena e significativa.
Mas toda regra tem exceção.....
Em situações de crise aguda, onde a pessoa está em surto psicótico, com a percepção da realidade alterada, a abordagem do psicólogo (ou psiquiatra, dependendo da necessidade) muda drasticamente.
A Intervenção em Crises: Respostas Prontas para a Emergência
Nesses momentos de emergência, o objetivo primordial é a estabilização e a segurança do paciente. Não há espaço para a exploração profunda de sentimentos ou a busca por autoconhecimento a longo prazo. As intervenções são diretas, claras e, sim, prontas, visando guiar o paciente de volta à realidade e mitigar os riscos imediatos.
Exemplos de "respostas prontas" em surtos:
- Comunicação Direta e Reorientadora: Se um paciente em surto está delirando que está sendo perseguido, o profissional não vai perguntar "O que faz você sentir isso?". Em vez disso, ele pode dizer firmemente: "Você está seguro aqui comigo. Ninguém vai te machucar." O foco é reorientar a pessoa para a realidade presente, transmitindo segurança e controle.
- Instruções Claras e Breves: Em um momento de agitação extrema, instruções complexas são inúteis. O psicólogo pode usar frases como "Sente-se aqui.", "Respire fundo." ou "Vamos para um lugar mais calmo.". São comandos específicos que buscam direcionar a ação do paciente e reduzir a desorganização.
- Validação da Emoção, mas Não da Ilusão: É crucial reconhecer o sofrimento do paciente sem validar o delírio. Por exemplo, se o paciente diz que está vendo monstros, a psicóloga não dirá "Sim, eu também vejo." Em vez disso, pode dizer "Eu entendo que você está com muito medo agora. Eu estou aqui para te ajudar a se sentir seguro." Isso valida a emoção (o medo), mas não a percepção alterada.
- Encaminhamento e Medicação Emergencial: Em muitos casos de surto, a "resposta pronta" mais importante é o encaminhamento urgente para avaliação psiquiátrica e possível medicação. O psicólogo tem o papel crucial de identificar a necessidade e garantir que o paciente receba o suporte médico adequado para estabilizar a crise.
O Propósito da Exceção: Superar a Crise, Não a Solução Definitiva
É fundamental entender que essas "respostas prontas" são táticas de contenção e manejo da crise.
Elas não são a solução para a condição subjacente, mas sim uma ponte para que o paciente saia do estado de desorganização mental e possa, posteriormente, iniciar um processo terapêutico mais aprofundado, que aí sim, buscará os "caminhos" para a compreensão e manejo da sua saúde mental a longo prazo.
A intervenção emergencial salva vidas e minimiza danos, abrindo a porta para o verdadeiro trabalho terapêutico quando o paciente estiver em condições de engajá-lo.