Falar sobre perdas, abandonos e solidão não é assunto fácil, tampouco esgotável, uma vez que existem diversos tipos de perdas e cada indivíduo processa os prejuízos emocionais de forma diversificada.
Fazendo um recorte bem sucinto do tema, vou me limitar a falar apenas sobre os relacionamentos amorosos. Em outro momento falarei sobre outras perdas e suas dores.
O início da relação afetiva:
Quando os indivíduos encontram "um certo alguém" que lhe pareça estranhamente familiar, com mais semelhanças que diferenças, inicia-se o processo de apaixonamento, que nada mais é do que a admiração acentuada. Nesta fase é comum pensar neste outro constantemente. Se houver reciprocidade, existe uma grande possibilidade de haver um relacionamento, desde que outros fatores não impossibilitem.
A relação em si
O tempo e a convivência criam novos hábitos, mudam padrões de pensamento, estipulam novos prazos, criam novas formas de encarar o mundo. Os casais tendem a passar muito tempo em contato, buscando atividades que sejam prazerosas para ambos.
Nesta fase pode haver um certo isolamento da vida social, pois alguns casais passam a viver exclusivamente em função do outro, o que não é saudável (mas isto é outra discussão).
Os conflitos
Depois de algum tempo, quando a convivência já se tornou um hábito, podem surgir divergências. Neste momento é preciso que os casais busquem ampliar a compreensão acerca do que está ocorrendo, para que juntos decidam sobre a melhor forma de manter o relacionamento. É fundamental que ambos façam a reflexão.
Quando apenas uma das partes entende que há um problema, e a outra parte nega, estamos diante de uma relação desequilibrada, que geralmente não agrega muita satisfação. O estresse aumenta, e podem surgir sentimentos como raiva e frustração, mesmo entre aqueles que se amam genuinamente.
O rompimento
Quando a relação torna-se insustentável, trazendo mais prejuízos que ganhos, os casais tendem a se separar. Mas isto não é uma solução simples. Vejamos porque:
1) Os relacionamentos começam porque (como dito acima) houve alguma sintonia entre os pares, que levou-os a se unir. A desunião dos casais geralmente é física no primeiro momento; a desunião emocional leva mais tempo pra ocorrer, trazendo muita dor, sofrimento e ansiedade.
Em alguns casos, quando os indivíduos percebem que não conseguem lidar com esta difícil situação sozinhos, deve-se pensar em buscar ajuda psiquiátrica e/ou psicológica, pois existem muitos aspectos cerebrais envolvidos na paixão, e quando ocorrem as perdas, o cérebro precisa se ajustar às novas demandas, e isto nem sempre é confortável. Dai a recomendação para que se busquem ajudas emocionais externamente.
2) Uma das tarefas mais difíceis no pós- rompimento é repensar a própria rotina:
Como viver sem o outro?
Esta pergunta, na prática pode ser traduzida como: "e agora, o que eu faço?" "como tomar decisões?" "pra onde ir aos sábados a noite?"
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De fato, não é fácil criar uma nova rotina, especialmente com tanta emoção negativa.
Mas é preciso!
Não estou aconselhando que se faça isto no primeiro momento; dê um tempo para si mesmo; é preciso chorar,, é preciso sentir a perda, aceitá-la, lidar com o sofrimento, admitir para si mesmo que houve uma ruptura, e que o outro não vai mais voltar.
Isto leva algum tempo, até que a tristeza se esgote.
Entendo que isto seja doloroso, mas é parte fundamental do processo de mudança. Sem a aceitação, não será possível seguir adiante.
Esta fase geralmente é demorada, e é normal que ocorram recaídas como vontade de procurar o outro, de fazer promessas absurdas, de aceitar prejuízos em troca da reconciliação. É preciso muito cuidado na tomada de decisões neste momento.
Daí a importância de apoio psicológico, para ajudar os indivíduos a se nortearem, até que consigam estabelecer novas rotinas sozinhos. Aos poucos, o indivíduo vai renascendo para a vida.